O cenário do empreendedorismo no Brasil provocado pela pandemia da Covid-19



Francisco de Assis Miranda da Silva (Aluno Bolsista Probex-UFPB) 
Valdineide dos Santos Araújo (Professora DFC/UFPB- Orientadora) 


Resumo 

Este trabalho faz uma breve contextualização histórica do surgimento do empreendedorismo, levanta alguns indicadores da economia anteriores à pandemia e atuais para exemplificar algumas situações e informar com o intuito de tornar conhecida a situação atual, bem como esmiuçar o horizonte para quem deseja empreender, durante ou após a pandemia.

Introdução

O ato de empreender é uma conjectura pragmática que está ligada diretamente à necessidade de independência. É um fenômeno global, há empreendedores em todos os lugares do mundo, até mesmo os mais remotos.

Remontando o contexto histórico que nos remete isso, uma prática que podemos associar genericamente ao empreendedorismo data de cerca de 8.000 anos a.C., o escambo, onde o excedente da produção era trocado com outros grupamentos produtores por produtos mais escassos. Essa atividade que emergiu na pré-história deu origem ao que entendemos por comércio hoje, uma atividade empreendedora.

Essa evolução contou com inúmeros avanços da sociedade e a sistematização. No Brasil, esta ação passou a ter maior ênfase na década de 1990, com a criação do primeiro programa governamental social a fim de promover o uso das informações advindas do pensamento sistemático.

Apesar do empreendedorismo, ainda hoje, ser executada de maneira, muitas vezes, empírica, sem a fundamentação teórica necessária, há uma maior incorporação de técnicas, amplamente conhecidas, para assegurar a continuidade e o sucesso das atividades empresariais.

Educação

Uma tecla “despedaçada”, de tantos cliques incansáveis por parte da sociedade e das instituições de ensino, é a necessidade de se implantar em uma base comum de educação, como nos países desenvolvidos, a educação financeira e a educação empreendedora.

Em se tratando de “tecla” não é plausível esquecer o papel da tecnologia nesse contexto, as TIC’s (Tecnologias da Informação e Comunicação) amplificam e promovem com dinamismo e engajamento a execução da atividade empresarial.

Tais condições foram parcialmente atendidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que desde 2017 vem sendo elaborada para vigorar nos próximos anos. Existem desafios e impactos, presentes e futuros, atrelados ao processo ensino-aprendizagem da educação empreendedora, que segundo Dolabela (2003) apud Ferreira, A. G. et. al. (2020) impactam cinco momentos estruturantes do indivíduo enquanto ser social, sendo estes: o sonho; a análise do sonho; o planejamento do sonho; o levantamento dos recursos necessários para a realização do sonho; e o balanço do que fora efetivado.

O que isso significa para nós? Esse é um desenho da estrutura necessária para realização lógica de qualquer empreendimento. Como diz um popular da minha cidade natal “o globo não para, o globo gira”, e como este movimento orbital essencial também são as mudanças, elas sempre vêm à tona. É preciso inovar para se adaptar às mudanças, e essas etapas, em quaisquer que seja a fase evolutiva da humanidade se aplicam inexoravelmente.

O contexto da pandemia

Hodiernamente se vive o caos originado pela pandemia avassaladora decorrente da infecção humana causada pelo Sars-CoV-2 (novo coronavírus), que imprime sobre a sociedade a necessidade de adoção de medidas extremas, que possuem impacto direto sobre a economia mundial.

Mas qual a relação disso com o empreendedorismo? Essa relação está exatamente no ponto que tange a economia, no Brasil, desde o dia 04/02/2020 foi decretado estado de Emergência em Saúde Pública de importância Nacional (ESPIN), e em decorrência disso, e da crescente disseminação do vírus, outras medidas, como o distanciamento social e o enrijecimento de medidas que proíbem a circulação cotidiana das pessoas, foram paulatinamente adotadas.

Esses fatores que enfraquecem a economia, descritos acima, representam uma nocividade para as atividades empresariais, de forma mais acentuada às micro e pequenas (MPE’s), que representavam em 2015, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mais de 98% das empresas ativas, cerca de 4,2 milhões.


























Do ponto de vista macroeconômico podemos ilustrar, de forma lógica e com maior propriedade, três cenários: no primeiro temos uma cadeia que arrasta consigo para baixo a economia, considerando serem as MPE’s responsáveis por mais de 50% do número de empregos formais no país e também as mais suscetíveis aos impactos negativos gerados pela pandemia, consegue-se estimar nessa categoria maior índice de descontinuidade e, consequentemente um elemento que impulsiona o desemprego.

Impacto sobre o emprego (desemprego)
O desemprego se refere às pessoas com idade para trabalhar que não estão trabalhando, mas estão disponíveis e tentam encontrar trabalho. É calculado pela PNAD Contínua - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. O desemprego cresceu 1,2% no primeiro trimestre de 2020 em relação ao último trimestre de 2019.

Impacto sobre o volume de serviços
A variação do índice do volume de serviços é calculada pela PMS - Pesquisa Mensal de Serviços e permite acompanhar o comportamento conjuntural deste setor no País. Esse volume já caiu 7,9% no acumulado dos meses de fevereiro e março.

Efeito da redução da demanda por serviço


Com mais positivismo, em um segundo cenário, pressupondo que as empresas se planejaram, possuíam reservas no início da pandemia para manterem as atividades por mais tempo com um fluxo de entrada de caixa menor, apoiando-se nas medidas governamentais como linhas de crédito especiais, medidas que possibilitam a redução da carga horária, reduzindo temporariamente o valor da folha, a prorrogação de prazos e o parcelamento de tributos, aumentam significativamente as chances de continuidade desses empreendimentos, em parte devido à educação e ao cumprimento de medidas legais, se assessorados por profissionais da contabilidade.

No terceiro temos as empresas, na sua maior parte de grande porte, geralmente mais consolidadas e com maior aporte de capital, bem como com indicadores de permanência no mercado mais elevados, por vezes ainda de segmentos da economia que estão se fortalecendo e estão em ascensão mesmo durante a pandemia, como o ramo alimentício, a indústria farmacêutica, outras áreas da saúde e ainda o comércio digital que traz consigo uma cadeira de outros segmentos e estão contratando nesse período para suprir a demanda.

Impacto sobre o volume de vendas do varejo
A variação do índice de volume de vendas do comércio varejista é calculada pela PMC - Pesquisa Mensal do Comércio. Mesmo observando um decréscimo de 3% só no mês de março ressaltamos que esse é um indicador macroeconômico e considera todos os setores do comércio, a título de exemplo se considerarmos um crescimento de 7% no setor alimentício e o decréscimo de 63% no setor de vestuário (Fonte: Boletim Cielo Varejo) ainda teríamos um indicador negativo significante.



















A partir de uma análise sucinta dos dados expostos observa-se a magnitude do impacto, principalmente se as empresas em questão não possuíam um planejamento voltado para eventuais intempéries, isto é, não realizavam escrituração contábil conforme os parâmetros legais ou não contingenciavam os recursos às reservas adequadas. Fatores essenciais para garantir e conhecer a saúde da prática empresarial.

Considerações Finais
Com base em todas as considerações que antecedem esta neste trabalho, chegamos a três conclusões importantes:

Em primeiro lugar fazemos referência à educação, a qual se revela o princípio de tudo, não sendo apenas a “educação escolar”, que é atendida pelas reivindicações e ensinada nas escolas básicas e instituições de ensino superior , mas sim, todo o conjunto de práticas e teorias aprendidas e que possam ser transformadas em hipóteses.

A segunda conjectura a que chegamos é a da importância da tecnologia, sendo que essa, porque não dizer, é um fruto da educação e é a educação continuada, pois assim como a sociedade está em constante transformação às quais o sujeito está “obrigado” a se adaptar, quase que como uma “seleção natural” para determinar quem permanece com fôlego no mercado.

O terceiro ponto que resolvemos dar ênfase é o conhecimento do ambiente como um todo, a própria atividade, através das informações contábeis, a estrutura do seu segmento, o público alvo, as variáveis que influenciam sua atividade, como a recessão posterior a esse período de redução da circulação das pessoas, o tempo que é necessário para o setor se reestruturar, enfim, todos os dados que se possam coletar através do planejamento estratégico, nesse ambiente de ensino-aprendizagem, como consequência da educação e do uso da tecnologia.

Referências
GUIMARÃES, A. B. S, et al., MICRO, PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS: CONCEITOS E ESTATÍSTICAS, Radar, IBGE, fev. 2018.

BOLETIM CIELO, Impacto do COVID-19 no Varejo Brasileiro, Disponível em: https://www.cielo.com.br/boletim-cielo-varejo/ acesso em: 08/06/2020

IBGE, Painel de Indicadores, Disponível em: https://www.ibge.gov.br/indicadores#variacao-do-pib acesso em: 08/06/2020 Google Trends, Disponível em: https://trends.google.com.br/trends/?geo=BR acesso em: 08/06/2020

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